A camisa branca e a mulher independente.

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É engraçado como um assunto vira outro e se transforma em algo mais complexo, como se fosse uma bola de neve. Depois de terminar o post sobre o que rolou no Globo de Ouro (estou apenas mencionando, não tem nada a ver com ele hoje, juro!), o vestido + camisa Dolce and Gabbana que Julia Roberts usou não saiu da minha cabeça. Quanto mais eu olhava para a combinação, mais me encantava com o look. Fico pensando que se Julia tivesse aparecido apenas com o vestido, sem a camisa por baixo, não teria causado esse mesmo impacto em mim, ela seria apenas a eterna “pretty woman”, conhecida pelo seu maravilhoso sorriso e só.


(Julia Roberts na estréia de August: Osage Conty, em Los Angeles, com Meryl Streep. Usando mais uma vez a famosa camisa branca.)

Como disse no post anterior, a atriz não é ícone de estilo, mas nessa ocasião ousou. Ousou porque quis, não porque estavam seguindo alguma tendência ou porque sabia que ia falar dela, aliás, sempre falam.
 Julia Roberts é uma das atrizes mais bem pagas de Hollywood e participou de diversos filmes de sucesso (alguns como Uma linda mulher, O casamento do meu melhor amigo e Um lugar chamado Nothing Hill, só para citar alguns). Ganhou um Oscar de melhor atriz em 2000 pelo seu papel em Erin Brockovich e chamou a atençao de todos por usar na premiaçao um Valentino preto e branco, que se tornaria naquela noite iconico no mundo da moda. Todos (ou pelo menos a maioria) os papéis da atriz se assimilam entre si por falarem de mulheres bem sucedidas (O casamento do meu melhor amigo, Um lugar chamado Nothing Hill), determinadas (Erin Brockovich) ou independentes (O sorriso de Monalisa- AMO <3).


(Julia Roberts mostrando que é gente que nem a gente. "E dai que sou mulher e nao depilei as axilas?")

Fiquei pensando na relação entre a atriz e a camisa branca. Parece loucura, mas a maioria das roupas que nós mulher usamos hoje já foi exclusiva do guarda roupa dos homens. A profissão de Julia Roberts (atriz), por muitos séculos foi também exclusividade  dos homens (mulheres nao podiam de jeito nenhum atuar). Poder trabalhar, votar ou sustentar uma casa é , hoje, uma grande conquista para as mulheres. Uma camisa branca representa liberdade e independência adquirida pelas mulheres, e não foi nada fácil.
A camisa branca virou um item “must have” no guarda roupa das pessoas (tanto para os homens como para as mulheres, principalmente no ambiente coorporativo) graças a Beau Brummel, no final do século XVIII. Nascido George Bryan Brummel, Beau era amigo íntimo do príncipe regente do Reino Unido, o futuro rei George IV. Brummel era ícone de estilo na corte inglesa, iniciando muitas tendências, que se espelhavam com facilidade pela corte. Beau é responsável por tornar a camisa branca em uma peça de roupa a ser complementada (com grandes casacos pesados e gravatas) e não para ser usada como roupa de baixo (tipo um camisolão), com o objetivo de proteger do frio e de tecidos pesados. Ele também é responsável pelo uso do terno e de tornar a gravata um item indispensável no guarda- roupa de qualquer homem.


(Beau Brummel e a famosa camisa branca que ele popularizou)

É apenas no século XIX que é introduzido o chemise no guarda roupa feminino, item que mais se assemelhava com a camisa branca. O chemise era uma longa camisola feita de algodão com adornos delicados de renda usada por debaixo dos vestidos. Em 1880, com a inovação do “tailleur”, a camisa branca é integrada ao vestuário das mulheres que precisavam trabalhar (como governantas, por exemplo.)


(Chemise, á moda espanhola, sendo usando por baixa dos roupas)

Durante o período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as mulheres precisaram sair de casa e sustentar suas famílias, já que seus maridos haviam sido enviados para o campo de batalha. Para mim, a Segunda Guerra foi crucial para o crescimento da mulher como personagem ativo e integrante dentro de uma sociedade. A partir desse período, a mulher se vê a como uma pessoa forte, sendo capaz de enfrentar desafios e vencer batalhas iguais aos homens. A fragilidade e delicadeza da mulher dá lugar a força e persistência em vencer no mundo, e o seu guarda-roupa precisava se adequar a essa mudança. Saias rodadas e sapatos altos precisaram abrir espaço para roupas mais confortáveis e que fossem práticos para o dia a dia. A camisa branca entra nesse cenário como item essencial para uma mulher ingressar no mercado de trabalho, dando uma aparência séria e determinada a mulher.


(Cartaz recrutando as mulheres a preencher o posto que seus maridos deixaram durante a Segunda Guerra Mundial. Entra os macacões, sai as saias rodadas. Entretanto, a feminidade continua)

A camisa branca passou a ser incorporada com outras peças no guarda roupa dos homens, como paletós e gravatas. A combinação dos itens formou quase que um uniforme no mundo coorporativo, atribuindo ao homem um caráter mais sério e responsável. Entretanto, graças a algumas mulher durante o século XX, esses mesmos itens foram usados também no universo feminino. 
Uma das mulheres responsáveis em tornar famoso o estilo andrógeno foi a atriz/cantora alemã (naturalizada americana) Marlene Dietrich. Em 1920, Marlene fez história a ser a primeira mulher a usar calças publicamente. Foi considerada por Hitler uma traidora por se negar a participar de um filme pró-nazismo. Durante a Segunda Guerra, passou a cantar para tropas aliadas, divertindo e entretendo soldados (viu como a Segunda Guerra foi importante? Mulheres acreditando em suas convicções!). Em 1961 atuou no filme Julgamento em Nuremberg, chocando pessoas e quebrando barreiras. O filme tratava sobre o holocausto e o nazismo, assunto pesado para a época (e para quem ousasse falar, imagem só uma mulher trazendo esse assunto a tona!).


(Marlene Drietich vestida á caráter, de terno e gravata. O que é preservado é a sua maquiagem pesada e sobrancelhas bem definidas)

No final dos anos 70 (1977, para ser exata), o diretor Woody Allen lançou um filme chamado Annie Hall, protagonizado pela –linda e talentosa- Diane Keaton. Acho interessante que o filme falasse sobre uma mulher considerada um tanto complicada, porque seu figurino mostrava o quanto era determinada. A personagem de Keaton abusava das calças largas (e mal ajustadas) de alfaiataria, coletes e gravatas (sim, Annie é uma personagem independente!). O mais engraçado de tudo é que parece que a vida imita a arte. Até os dias atuais é possível ver Diane Keaton usando em suas aparições públicas ternos, gravatas e (pausa dramática) camisa branca! Coincidências a parte ou não, Diane nunca se casou, adotou três crianças, sempre fez personagens independentes, que não precisam de um homem, apenas querem um ao seu lado para ser feliz.  


(Vestuário característico de Annie Hall. Hoje esse estilo está em alta. Alguns chamam de Preppy, outros, dependendo dos itens do look, minimalista)

Poderia ficar horas aqui falando sobre a evolução do guarda roupa das mulheres. Hoje é muito comum verem elas assumindo grandes cargos, sendo donas de casa e ajudando os filhos com o dever de casa,  tudo no mesmo dia  Ainda somos femininas e delicadas, mas podemos lutar com os homens lado a lado. Usamos calça e salto alto, tudo junto (loucura!). O dress code mudou muito ao longo dos anos, posso quase que afirmar que hoje é tudo junto e misturado. Usamos calça no tapete vermelho e os homens vao a manicure, simples assim.


(Emma Watson usando calças- Dior- no Globo de Ouro de domingo. Glamour moderno, com certeza. Achei LINDO e INUSITADO. Ela é jovem, rica e gosta de experimentar com a moda, AMEI!)


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